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Arte e ciência da gestão de riscos: habilidades e competências que todo CRO deve possuir

Arte e ciência da gestão de riscos: habilidades e competências que todo CRO deve possuir

 

As organizações hoje operam num ambiente de negócios caracterizado por rápidas mudanças, complexidades crescentes e um grau de incerteza sem precedentes. Nesse cenário, a realização dos objetivos organizacionais e a implementação efetiva de estratégias dependem cada vez mais de uma gestão eficaz das incertezas, sobretudo as que trazem consigo riscos. O papel do gestor de riscos, ou Chief Risk Officer (CRO), torna-se, assim, um pilar crucial para o sucesso da organização. Através de sua visão estratégica e operacional, o CRO aumenta as chances de que a organização consiga não apenas sobreviver, mas prosperar, apesar das turbulências e atingir seus objetivos. Este artigo pretende explorar as complexidades desse papel vital, descrevendo as múltiplas competências e habilidades que são exigidas de um gestor de riscos eficaz.

 I - A Arte da gestão de riscos: conhecimento e habilidades

 

I.1. Tomada de decisões em meio a incertezas

A tomada de decisões no contexto da incerteza é uma disciplina que tem raízes na teoria da decisão, que estuda as melhores estratégias sob diferentes cenários. Uma competência fundamental para o gestor de riscos é a capacidade de tomar decisões informadas quando os resultados são incertos. Isso requer uma compreensão profunda dos princípios de probabilidade e estatística, além de habilidades sólidas de avaliação de risco.

 Por exemplo, num contexto como o setor de seguros, quando um desastre natural, como um terremoto ou furacão, ocorre, os gestores de riscos precisam ajudar a decidir se aumentam os prêmios de seguro ou se retiram completamente de certas áreas. Essa decisão requer uma avaliação cuidadosa de múltiplos fatores, incluindo a reação dos clientes, as implicações regulatórias e a exposição financeira.

Nos aprofundaremos mais nesse tema ao longo to texto.

 I.2. Identificação de oportunidades e antecipação de riscos: uma abordagem integrada

A habilidade de identificar oportunidades enquanto antecipa e mitiga riscos é uma função vital na gestão de riscos. Esta competência não só ajuda na proteção contra possíveis perdas mas também facilita a exploração de novas possibilidades de crescimento e lucro. Para melhor compreensão, consideraremos duas teorias fundamentais e como elas se aplicam na prática: a análise SWOT e a Análise de Cenários Prospectivos.

  • Análise SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats): A análise SWOT é uma ferramenta estratégica amplamente utilizada para identificar forças, fraquezas, oportunidades e ameaças relacionadas a um negócio. É uma abordagem holística que proporciona uma visão clara do ambiente interno e externo da organização, permitindo a identificação de oportunidades de crescimento e antecipação de riscos potenciais (Helms & Nixon, 2010).
  • Análise de cenários prospectivos: Esta é uma metodologia que permite aos gestores explorar e preparar-se para várias possibilidades futuras. Ao criar diferentes cenários futuros possíveis e analisar como a organização pode operar neles, a análise de cenários ajuda a identificar oportunidades e riscos potenciais em um ambiente incerto e em constante mudança (Schoemaker, 1995).
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    Exemplo prático envolvendo a expansão para um novo mercado:

  • Abordagem com análise SWOT: Quando uma empresa de tecnologia está considerando a expansão para um novo mercado, a aplicação da análise SWOT pode ser crítica. Ao examinar as forças e fraquezas internas, junto com as oportunidades e ameaças externas, o gestor de riscos pode ter uma compreensão profunda da situação. Por exemplo, uma força pode ser a tecnologia proprietária da empresa, enquanto uma ameaça pode ser a regulamentação rigorosa no novo mercado.
  • Abordagem com análise de cenários prospectivos: Complementando a análise SWOT, a análise de cenários prospectivos pode ser usada para explorar diferentes futuros possíveis no novo mercado. Por exemplo, um cenário pode envolver uma rápida adoção de novas regulamentações tecnológicas, enquanto outro pode considerar uma reação negativa do mercado local. Essas análises permitem que a empresa se prepare e responda de maneira eficaz a diferentes possíveis realidades.
  • A combinação dessas duas abordagens proporciona uma avaliação abrangente e flexível das oportunidades e riscos associados à expansão para um novo mercado. Enquanto a análise SWOT fornece uma visão estática e imediata do ambiente de negócios, a análise de cenários prospectivos adiciona uma dimensão futura e dinâmica, permitindo uma tomada de decisão mais robusta e informada.

     I.3. Desenvolvimento de estratégias de gestão de riscos

    Os princípios e processos de gestão de riscos, como a identificação, análise, avaliação, tratamento, e monitoramento de riscos, formam a espinha dorsal das estratégias de gestão de riscos eficazes. Essas estratégias não são apenas abordagens reativas para responder a problemas à medida que surgem, mas também métodos proativos para prevenir riscos e criar oportunidades.

    Nas empresas de prestação de serviços, a gestão de riscos adquire uma complexidade especial devido à natureza intangível dos serviços e às expectativas do cliente. Para exemplificar, considere uma empresa de consultoria em tecnologia. Um de seus principais riscos pode ser a satisfação do cliente com os projetos entregues. Sem uma estratégia de gestão de riscos, um projeto mal gerenciado pode levar a atrasos, custos excessivos e insatisfação do cliente.

    A empresa pode, portanto, desenvolver uma estratégia de gestão de riscos que inclua a avaliação contínua das necessidades do cliente, monitoramento de prazos e orçamentos, controle de qualidade rigoroso e processos de feedback claros e eficientes. Esta abordagem integrada não apenas mitiga riscos, mas também pode transformar potenciais problemas em oportunidades de melhoria e crescimento.

    A lição aprendida da crise financeira de 2008 também ressoa nesta área. Empresas que aplicaram estratégias robustas de gestão de riscos conseguiram navegar através da crise com relativa segurança. Na prestação de serviços, esta lição se traduz na necessidade de diversificação de clientes, a manutenção de padrões de qualidade elevados, e a adaptação rápida às mudanças nas necessidades do mercado e regulamentações.

    Desenvolver e implementar estratégias eficazes de gestão de riscos, portanto, não é apenas uma boa prática de negócios, mas uma necessidade vital para qualquer organização que deseja ser resiliente e bem-sucedida no ambiente de negócios dinâmico e complexo de hoje. Isso é particularmente verdadeiro na área de prestação de serviços, onde a gestão de riscos adequada pode ser a diferença entre o sucesso contínuo e o fracasso.

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    A Gestão de Riscos é uma arte mesclada com ciência.

     I.4. Criação e implantação de sistemas de gestão de riscos

     A gestão de riscos moderna vai além da simples identificação e monitoramento de riscos. Requer a criação e implantação de sistemas e ferramentas robustos que não apenas controlam os riscos, mas também os integram na estratégia e operação da empresa. A capacidade de desenvolver e gerenciar esses sistemas complexos é uma competência vital para o gestor de riscos, que deve estar alinhado com padrões e melhores práticas internacionais.

    A ISO 31000, uma norma internacional para gestão de riscos, destaca a importância de um sistema estruturado que inclua políticas, estratégia, estrutura, processos, planos, procedimentos e recursos para a gestão de riscos. Essa abordagem holística permite uma visão clara e unificada dos riscos em toda a organização.

    Um exemplo prático seria a implementação de um sistema de gestão de riscos empresarial (ERM) em uma organização multinacional. Ao seguir as diretrizes da ISO 31000, o gestor de riscos pode criar um sistema que integra todos os aspectos do risco, desde a identificação e avaliação até o monitoramento e revisão contínua. Este ERM permitiria a gestão coordenada de riscos em diferentes departamentos e regiões, proporcionando uma resposta mais eficaz e alinhada às metas de negócio.

    O Instituto de Auditores Internos (IIA) também enfatiza a importância de uma abordagem integrada à gestão de riscos. Em suas linhas de orientação, o IIA destaca três áreas-chave:

  • Alinhamento com a estratégia: A gestão de riscos deve ser integrada à estratégia de negócios, garantindo que os riscos sejam gerenciados em harmonia com os objetivos da organização.
  • Comunicação eficaz: A informação sobre riscos deve ser comunicada de forma clara e oportuna, permitindo uma tomada de decisão eficaz.
  • Monitoramento Contínuo: A gestão de riscos deve ser um processo dinâmico, com monitoramento contínuo e ajustes conforme necessário para refletir mudanças no ambiente de negócios.
  • Ao seguir estas diretrizes e utilizar a abordagem da ISO 31000, um gestor de riscos eficaz pode criar e implementar um sistema de gestão de riscos que não apenas proteja a organização, mas também a posicione para aproveitar oportunidades e impulsionar o crescimento. Esta habilidade, combinada com um entendimento profundo do negócio e uma abordagem proativa e estratégica, coloca o gestor de riscos como uma peça central no sucesso organizacional.

    I.5. Comunicação eficiente: competência essencial para o CRO

    Na complexa teia de responsabilidades e desafios enfrentados por um Chief Risk Officer (CRO), a habilidade de se comunicar de maneira clara e eficiente emerge como uma competência essencial. A comunicação é uma ferramenta vital, tanto na transmissão verbal quanto na escrita, que permite ao CRO articular estratégias, explicar riscos, persuadir stakeholders e inspirar equipes. Vejamos alguns aspectos cruciais da comunicação eficiente na função do CRO:

  • Comunicação clara e sucinta: O CRO deve ser capaz de explicar conceitos complexos de maneira simples e acessível. Isso inclui traduzir análises técnicas em informações compreensíveis para a alta administração, reguladores e outras partes interessadas.
  • Comunicação verbal: A habilidade de falar de maneira convincente e coerente é vital para apresentações, reuniões e discussões. Isso permite ao CRO promover o entendimento, ganhar apoio e liderar de maneira eficaz.
  • Comunicação escrita: Relatórios bem escritos, e-mails claros e documentação meticulosa são ferramentas poderosas que ajudam na tomada de decisões, na conformidade e na transparência.
  • Comunicação interdepartamental: O CRO deve facilitar a comunicação entre diferentes departamentos e equipes, garantindo que as informações relevantes sejam compartilhadas e compreendidas.
  • Comunicação em crise: Em momentos de crise ou eventos significativos, a capacidade do CRO de comunicar-se rapidamente e de maneira controlada é vital. Isso pode incluir coordenação com equipes de resposta a emergências, comunicação com a mídia, ou atualizações regulares para a liderança da empresa.
  • Escuta ativa: A comunicação eficiente não é apenas sobre falar e escrever, mas também sobre ouvir ativamente. Compreender as preocupações, perguntas e feedback de outros é fundamental para a tomada de decisões informadas.
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    Exemplo Prático: Imagine uma mudança regulatória significativa que afeta várias áreas de uma organização. O CRO precisa comunicar essa mudança a diversos departamentos, explicando suas implicações, guiando a implementação de controles necessários, e garantindo que todos entendam seus respectivos papéis e responsabilidades. Isso pode incluir apresentações para a liderança executiva, workshops para equipes operacionais e comunicação contínua durante a transição.

    A comunicação eficiente é, portanto, uma habilidade multifacetada que permeia todos os aspectos da gestão de riscos. É através da comunicação que o CRO constrói relacionamentos, promove a compreensão, lidera mudanças e mantém a organização alinhada e informada. É uma competência que vai além da mera troca de informações, tornando-se uma poderosa alavanca para influência, colaboração e sucesso. Não é por acaso que a comunicação é reconhecida como uma etapa crucial no processo de gestão de riscos, sendo enfatizada na norma internacional ISO 31000. Essa norma destaca a importância de uma comunicação clara e eficaz entre todos os níveis de uma organização, tanto internamente quanto externamente, na identificação, análise e tratamento de riscos. A habilidade de comunicar efetivamente os riscos e oportunidades, portanto, não é apenas uma prática desejável, mas um padrão internacionalmente reconhecido na profissão de gestão de riscos.

     II - A ciência da gestão de riscos: visão geral e orientação estratégica

     Os gestores de riscos não são apenas guias, mas também tradutores de conceitos complexos. Eles precisam ter uma compreensão abrangente de uma variedade de disciplinas para orientar adequadamente as estratégias e processos da empresa.

     II.1. Conhecimentos financeiros e econômicos

     Um entendimento geral dos princípios financeiros e econômicos é vital. Não se espera que o gestor de riscos seja um economista ou financista, mas ele deve ser capaz de compreender como as condições econômicas e as variáveis financeiras podem influenciar os riscos enfrentados pela empresa.

    Por exemplo, imagine uma organização que está avaliando um projeto significativo que requer um investimento substancial em controles para mitigar riscos. A empresa pode estar relutante em alocar recursos adicionais para os controles, mas um CRO habilidoso é capaz de analisar o cenário de investimento e apresentar um caso convincente. Ele poderia destacar que, embora o investimento em controles possa parecer alto à primeira vista, os potenciais impactos e consequências de não implementar esses controles poderiam ser dezenas de vezes maiores do que o investimento original. Ao calcular o retorno sobre o investimento (ROI) e contrastá-lo com os possíveis riscos, o CRO pode influenciar a liderança da necessidade de tal investimento, garantindo assim que a empresa esteja protegida contra riscos operacionais e estratégicos substanciais. Esse entendimento financeiro é crucial para tomar decisões bem informadas que estejam alinhadas com os objetivos estratégicos da organização.

     II.2 Tecnologia da informação e cybersegurança

    No mundo cada vez mais digitalizado, ter um entendimento básico dos riscos associados à TI e à cibersegurança é imprescindível. O gestor de riscos deve estar familiarizado com as tendências tecnológicas emergentes e os princípios de segurança cibernética, mesmo que não seja um especialista no assunto. Além de orientar a área de TI, o CRO deve ser capaz de orientar a organização como um todo sobre os riscos que envolvem tecnologias e a forma como esses riscos podem ser gerenciados.

    Um exemplo disso é o aumento dos ataques de ransomware. Um CRO eficaz deve ser capaz de trabalhar em conjunto com especialistas em segurança para desenvolver e implementar estratégias de prevenção, detecção e resposta a tais ameaças. No entanto, essa responsabilidade vai além de uma abordagem reativa; o CRO deve liderar uma cultura de conscientização em toda a organização, promovendo práticas seguras e políticas robustas. Além disso, o CRO precisa utilizar sistemas de apoio específicos para o processo de gestão de riscos, que ajudam na identificação, avaliação e monitoramento contínuo desses riscos. A integração dessas ferramentas tecnológicas, juntamente com uma visão proativa e estratégica, permite ao CRO criar um ambiente resiliente, onde a tecnologia é empregada de maneira segura e alinhada com os objetivos da organização.

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    O gestor de riscos deve estar familiarizado com as tendências tecnológicas.

    II.3. Continuidade de negócios e recuperação de desastres (BCP e DRP)

    Os gestores de riscos precisam entender os princípios fundamentais do planejamento da continuidade dos negócios (BCP) e da recuperação de desastres (DRP). Esses conceitos não são apenas vitais para a resiliência e a operação da empresa em situações de crise, mas também são integrados ao próprio processo de gestão de riscos. Enquanto o CRO pode não ser o especialista direto em BCP e DRP, ele deve ser capaz de colaborar e até liderar, se necessário, em um time multidisciplinar como o comitê de riscos e resiliência, que terá especialistas nessas áreas.

    Veja, por exemplo, o impacto da pandemia da COVID-19 nas empresas. Em uma organização onde o CRO trabalha em estreita colaboração com os especialistas em BCP e DRP, a resposta à pandemia foi mais ágil e eficaz. Ao compreender os princípios de BCP e DRP, o CRO foi capaz de fornecer insights estratégicos, participar da tomada de decisão e, em alguns casos, liderar a implementação dos planos de continuidade de negócios. Essa abordagem colaborativa e multidisciplinar minimizou as interrupções e garantiu a continuidade dos serviços, ilustrando como a função do CRO, em algumas organizações, pode ir além da orientação direta e se estender à coordenação e liderança em complexas situações de crise.

     III - Relatórios e análises de riscos para apoio à tomada de decisão

     Uma das principais responsabilidades de um gestor de riscos é fornecer relatórios e análises precisas para auxiliar na tomada de decisão. Eles devem ser capazes de traduzir complexidades e incertezas em informações claras, relevantes e oportunas.

     III.1. Apoiar tomada de decisões em meio a incertezas

    Vamos aprofundar esse importante tema já abordado rapidamente no início do artigo. Tomar decisões bem fundamentadas em meio a incertezas é uma habilidade essencial em gestão de riscos. A complexidade e dinâmica do ambiente empresarial moderno frequentemente levam a situações onde decisões críticas devem ser feitas sem a disponibilidade completa de informações. Neste contexto, o gestor de riscos assume um papel crucial, não apenas na avaliação e gestão dos riscos, mas também na capacidade de navegar em território incerto. A literatura acadêmica e as melhores práticas do setor fornecem insights sobre como esse processo pode ser efetivamente conduzido.

  • Abordagem Bayesiana (Teoria de Probabilidade Bayesiana): Esta teoria, nomeada em homenagem ao teólogo e estatístico Thomas Bayes, é usada para atualizar a probabilidade de uma hipótese à medida que mais evidências ou informações se tornam disponíveis. Gestores de riscos podem usar este método para atualizar suas estimativas de risco e tomar decisões mais informadas, mesmo quando as informações são limitadas ou incertas (McGrayne, 2011).
  • Gestão de riscos com modelos de árvore de decisão: Árvores de decisão são ferramentas gráficas que ajudam na visualização de possíveis resultados de uma série de escolhas relacionadas. Elas podem ser usadas para explorar diferentes cenários e ajudar na tomada de decisões baseadas em uma avaliação estruturada dos riscos e benefícios associados (Clemen & Reilly, 2013).
  • Teoria dos Jogos: Em situações onde a decisão de uma empresa pode ser influenciada pelas ações de concorrentes ou outras partes externas, a teoria dos jogos pode ser aplicada. Esta abordagem matemática para a tomada de decisões estratégicas pode ajudar a entender e prever o comportamento dos outros jogadores no mercado e, portanto, informar decisões mais robustas (Dixit & Nalebuff, 2008).
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    Exemplo Prático: Durante o surgimento de uma nova regulamentação que afeta a indústria de prestação de serviços, os gestores de riscos podem encontrar-se em uma posição onde as informações completas sobre a implementação e impacto da regulamentação são incertas. Aplicando as abordagens acima, eles podem começar com uma análise bayesiana para avaliar os riscos iniciais, usar uma árvore de decisão para explorar diferentes cenários de conformidade, e aplicar a teoria dos jogos para entender como os concorrentes podem reagir. Essa combinação de técnicas permite uma avaliação abrangente das opções disponíveis e suporta a seleção da melhor estratégia de ação.

    Resumindo, a capacidade de tomar decisões em meio a incertezas é uma habilidade essencial para o gestor de riscos moderno. O recurso a abordagens teóricas sólidas e a integração dessas teorias na prática diária pode facilitar a tomada de decisões informadas, mesmo nas situações mais complexas e incertas. Isso complementa a abordagem inicial apresentada na primeira seção do artigo, fornecendo uma visão mais profunda e enriquecida desta habilidade central na gestão de riscos.

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    Tomar decisões em meio a incertezas requer muita técnica e capacidade imaginativa.

     III.2. Identificação de oportunidades

    A gestão de riscos não se limita à prevenção e/ou mitigação de riscos. Ela envolve também o reconhecimento e a capitalização de oportunidades. Um bom gestor de riscos, ou CRO, tem o discernimento de identificar oportunidades "escondidas dentro dos riscos", transformando potenciais desafios em vantagens competitivas. Esta abordagem positiva e proativa pode ser uma ferramenta vital para a inovação, crescimento e sucesso de uma organização.

    Vamos considerar um exemplo mais detalhado, ilustrando essa abordagem:

    Imagine uma empresa que atua em um setor fortemente influenciado pela tecnologia e que está diante de uma inovação disruptiva em seu campo. Enquanto muitos na organização podem ver essa disrupção como uma ameaça iminente, um gestor de riscos experiente e perspicaz enxergará além.

  • Análise do risco e da oportunidade: O CRO primeiro analisa a mudança tecnológica, entendendo não apenas os riscos associados, mas também as possibilidades de inovação que ela traz. Ele investiga como essa tecnologia poderia ser aplicada ao modelo de negócios atual da empresa e quais são os possíveis ganhos.
  • Planejamento estratégico: Baseado em sua análise, o CRO trabalha em colaboração com outras partes da empresa para desenvolver um plano estratégico. Isso pode incluir investimento em pesquisa e desenvolvimento, formação de parcerias com startups tecnológicas, ou realinhamento dos produtos e serviços atuais.
  • Implementação e monitoramento: Após a aprovação do plano, o CRO ajuda a guiá-lo para a implementação, garantindo que os riscos sejam gerenciados e que as oportunidades sejam maximizadas. Isso inclui o monitoramento contínuo e a avaliação da estratégia para assegurar que ela está alinhada com os objetivos da organização.
  • Avaliação e ajuste: Por fim, o CRO revisa regularmente o progresso, fazendo ajustes conforme necessário e assegurando que a empresa não só responde efetivamente ao risco, mas também aproveita a oportunidade para se posicionar como uma líder na inovação.
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    A gestão de riscos não é apenas sobre evitar perdas; é também sobre identificar oportunidades.

    Este exemplo destaca como o papel do gestor de riscos vai além do tradicional foco em prevenção e controle, para incluir uma visão estratégica e proativa. Em um ambiente de negócios cada vez mais dinâmico e incerto, essa habilidade de identificar e capitalizar oportunidades pode ser um diferencial crítico na sustentabilidade e crescimento da organização.

     III.3. Antecipação e controle de riscos

    A antecipação e o controle de riscos são componentes essenciais na gestão de riscos e um dos aspectos centrais do papel de um gestor de riscos eficaz. Isso envolve não apenas a identificação de possíveis riscos, mas também a análise, prevenção e preparação para esses riscos antes que eles se materializem. O CRO deve combinar uma compreensão profunda do negócio, da indústria e do ambiente operacional para prever desafios futuros e tomar medidas proativas para evitar ou minimizar o impacto negativo, além de tentar potencializar os positivos como vimos no item anterior.

    Vamos explorar isso através de um exemplo mais complexo e multifacetado:

  • Identificação do risco: Imagine uma empresa que atua no mercado global e está enfrentando um cenário de aumento das taxas de juros em várias economias-chave. O CRO começa identificando como esse aumento pode afetar diferentes aspectos do negócio, desde o custo de financiamento até os padrões de consumo.
  • Análise de impacto: Ele avalia o impacto potencial no fluxo de caixa da empresa, levando em consideração variáveis como dívida existente, condições de mercado, comportamento do consumidor e relações comerciais. Essa análise aprofundada ajuda a entender como o risco pode afetar a organização em diferentes níveis.
  • Desenvolvimento de estratégias: O CRO, trabalhando em conjunto com diferentes departamentos, desenvolve estratégias para mitigar o impacto identificado. Isso pode incluir o refinanciamento de dívidas a taxas fixas, a alteração da estrutura de preços, ou a entrada em novos mercados com taxas de juros mais estáveis.
  • Implementação e monitoramento: Com uma estratégia definida, o CRO supervisiona a implementação das medidas de controle e mantém um monitoramento contínuo para ajustar a abordagem conforme as mudanças no ambiente econômico.
  • Revisão e aprendizado: Após o período de risco, o CRO analisa o que funcionou e o que não funcionou, e utiliza essas lições para aprimorar a capacidade da organização de antecipar e responder a riscos futuros.
  • Este exemplo ilustra como a antecipação e controle de riscos são processos dinâmicos e integrados que requerem uma combinação de habilidades analíticas, estratégicas e operacionais. Eles destacam a importância de um CRO que não apenas reage a situações de risco, mas ativamente as antecipa e cria estratégias proativas para assegurar que a organização continue alinhada com seus objetivos, mesmo em face de desafios imprevistos. É uma abordagem que enfatiza a resiliência, a preparação e a capacidade de se adaptar em um ambiente empresarial em constante mudança.

     III.4. Estratégias de gestão de riscos: flexibilidade e adaptação

    A gestão de riscos é um campo em constante evolução que exige uma abordagem estratégica e adaptável. A capacidade de um CRO de avaliar continuamente o ambiente de negócios, identificar mudanças, e ajustar a estratégia de gestão de riscos para refletir essas mudanças é vital. Uma estratégia rígida e imutável pode deixar a organização vulnerável a novos riscos e desafios imprevistos.

    Para ilustrar isso, vamos examinar uma abordagem na área de segurança corporativa, especialmente em um contexto em que as condições de segurança e riscos podem mudar rapidamente:

  • Análise preliminar de riscos: Um CRO em uma grande corporação implementa uma estratégia de segurança patrimonial, considerando fatores como a localização das instalações, o valor dos ativos, as ameaças regionais e a cultura organizacional.
  • Monitoramento contínuo: O ambiente é monitorado continuamente para identificar novas ameaças e vulnerabilidades. Isso pode incluir análise de tendências criminais na região, mudanças na legislação ou regulamentação, ou o desenvolvimento de novas tecnologias que possam afetar a segurança, como ocorreu com os drones, recentemente, em alguns tipos de organizações.
  • Adaptação estratégica: Imagine que uma nova forma de ataque cibernético começa a visar empresas na indústria, ou que um surto de violência na região aumenta o risco de roubo ou vandalismo. O CRO deve ser capaz de ajustar rapidamente, em parceria como diretor de segurança, a estratégia de segurança patrimonial para refletir essas novas ameaças.
  • Comunicação e implementação: A estratégia revisada é comunicada claramente aos responsáveis pela segurança e a todos os níveis da organização, e são implementadas medidas práticas para fortalecer a segurança. Isso pode incluir o fortalecimento de protocolos de segurança cibernética, aumento da presença de segurança física ou investimento em novas tecnologias.
  • Avaliação e revisão: A eficácia das mudanças é avaliada regularmente, e a estratégia continua a ser ajustada para responder às condições em evolução.
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    O CRO necessita avaliar continuamente o ambiente de negócios.

    Este exemplo demonstra a natureza dinâmica e responsiva da estratégia de gestão de riscos. O CRO não apenas identifica e responde a riscos, mas também prevê possíveis desafios futuros e se prepara para eles. A capacidade de transformar informações complexas em relatórios claros e ações oportunos é uma habilidade chave neste processo, permitindo que a organização mantenha sua resiliência e alinhamento com seus objetivos, mesmo diante de mudanças rápidas e imprevistas no ambiente de negócios. 

    IV - Conhecimento sobre o mercado assegurador

     Embora o gestor de riscos não precise ser um especialista em seguros, é importante que ele compreenda como o mercado de seguros funciona e quais ferramentas estão disponíveis para a transferência (compartilhamento) ou mitigação de riscos.

    O seguro é uma ferramenta chave no gerenciamento de riscos, proporcionando uma rede de segurança financeira para empresas em caso de eventos adversos.

     Um exemplo prático é a gestão de riscos de desastres naturais. Um gestor de riscos informado poderá trabalhar com especialistas em seguros para identificar as melhores opções de cobertura para a empresa.

    Além disso, o CRO deve entender como a sinistralidade afeta a capacidade da empresa de obter cobertura. Por exemplo, se a empresa tiver um histórico de grandes sinistros, pode ser mais difícil obter cobertura, ou a cobertura pode ser mais cara. Por outro lado, se a empresa tiver um bom histórico de gestão de riscos e poucos sinistros, pode ser capaz de negociar taxas de prêmio mais baixas.

     A capacidade de entender e orientar uma variedade de disciplinas técnicas e ferramentas ajuda a criar gestores de riscos com uma visão mais ampla e holística, capazes de trazer valor real para suas organizações. Na próxima parte deste artigo, veremos como essas competências são aplicadas na prática, focando em relatórios e análises de riscos para apoio à tomada de decisão. 

     V - Roteiro simplificado para se tornar um gestor de riscos

     No mundo empresarial em constante evolução, o papel do gestor de riscos (CRO) tornou-se indispensável para garantir a estabilidade, o crescimento e a resiliência das organizações. A jornada para se tornar um CRO efetivo pode ser complexa e cheia de desafios, especialmente para profissionais jovens com menos de 5 anos de experiência. No entanto, com orientação adequada e um roteiro claro, essa meta é perfeitamente alcançável. Nesta seção, forneceremos um guia passo a passo que servirá como um roteiro para ajudar profissionais jovens e ambiciosos a trilhar um caminho de sucesso para se tornarem grandes CROs.

  •  Educação: O primeiro passo para se tornar um CRO é ter uma base sólida em termos educacionais. Normalmente, uma formação em finanças, economia, estatística, engenharia ou campos relacionados é útil. O conhecimento adquirido em tais cursos serve como a base sobre a qual você irá construir as suas habilidades de gestão de riscos.
  • Ganhar experiência: Após a formação inicial, o próximo passo é adquirir experiência relevante. Tente buscar posições iniciais em áreas que lhe permitam ter uma compreensão clara dos riscos e como eles podem afetar uma organização. Tais posições podem incluir papéis de analista financeiro, auditor interno, analista de risco, entre outros.
  • Buscar certificações relevantes: Buscar certificações relevantes é fundamental para quem aspira se tornar um CRO. Algumas das mais conhecidas incluem a Certified Risk Manager (CRM), oferecida pela National Alliance for Insurance Education & Research, focada em métodos de gestão de riscos e seguros; a Professional Risk Manager (PRM), concedida pelo Professional Risk Managers' International Association (PRMIA), voltada para a compreensão e gerenciamento dos riscos financeiros; e a Financial Risk Manager (FRM), emitida pela Global Association of Risk Professionals (GARP), que enfatiza habilidades analíticas, quantitativas e estatísticas. No Brasil, destaca-se também a Certificação C31000, fornecida pelo Global Institute for Risk Management Standards (G31000), alinhada com a norma ISO 31000 e reconhecida como um padrão de excelência em gestão de riscos. Essas certificações proporcionam uma compreensão profunda das técnicas de gestão de riscos e são altamente valorizadas pelos empregadores, com a C31000 sendo particularmente relevante no contexto brasileiro.
  • Expandir o conjunto de habilidades: Um CRO eficaz precisa ter um conjunto diversificado de habilidades. Isso inclui a capacidade de tomar decisões estratégicas, fortes habilidades de comunicação, habilidades analíticas e habilidades de liderança. Muitas dessas habilidades podem ser desenvolvidas através de experiências práticas no trabalho, mas também podem ser aprimoradas através de cursos de desenvolvimento profissional e treinamentos.
  • Ganhar experiência em diversos setores: A experiência em diversos setores pode ser extremamente valiosa para um CRO. Cada setor tem seus próprios riscos e desafios, e ter uma compreensão clara dessas variáveis pode ajudar a fornecer uma perspectiva mais abrangente quando se trata de gestão de riscos.
  • Buscar posições de liderança: Afinal, um CRO é um líder. Portanto, à medida que você avança em sua carreira, procure oportunidades que lhe permitam assumir posições de liderança. Isso pode incluir gerenciar uma equipe, liderar um projeto ou assumir um papel de gerenciamento sênior.
  • Mentoria e networking: Conecte-se com profissionais experientes no campo da gestão de riscos e procure um mentor que possa orientá-lo em sua carreira. Além disso, participe de eventos e conferências do setor para construir uma rede sólida. O networking é essencial para o crescimento profissional e pode abrir portas para oportunidades futuras.
  • Continuar aprendendo: A gestão de riscos é um campo em constante evolução, e para se manter relevante, é importante estar sempre aprendendo. Isso pode incluir a obtenção de certificações adicionais, a participação em cursos de formação, a leitura de publicações relevantes e a manutenção do conhecimento sobre as tendências e mudanças no setor.
  • Lembre-se, tornar-se um CRO eficaz é uma jornada que requer dedicação, aprendizado contínuo e prática. Com o tempo e a experiência, você estará bem posicionado para assumir o papel de CRO e ajudar sua organização a navegar com sucesso pelos riscos e incertezas do mundo dos negócios.

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    Transforme o sucesso profissional em uma jornada, não um ponto da sua carreira.

    Conclusão: o papel crítico do Chief Risk Officer

    Este artigo explorou o papel multifacetado do CRO e o vasto conjunto de habilidades e conhecimentos necessários para cumprir esse papel com eficácia. Desde a tomada de decisões em meio a incertezas até a identificação de oportunidades e controle de riscos, a gama de responsabilidades do CRO é extensa e de grande importância estratégica.

     Além de suas tarefas operacionais, o CRO contribui significativamente para o alcance dos objetivos organizacionais, fortalecendo a resiliência e a capacidade da empresa de navegar com sucesso no ambiente de negócios sempre desafiador e em constante mudança.

     O CRO precisa ser versado em uma variedade de disciplinas, incluindo teoria da decisão, teoria dos jogos, legislação, idiomas, regulamentação, economia, finanças, tecnologia da informação e cibersegurança. Ele precisa entender a continuidade dos negócios e a recuperação de desastres, além de ter conhecimento sobre o mercado de seguros.

    Ao contrário do que se poderia pensar, o CRO não precisa ser um especialista em todos esses campos. No entanto, um conhecimento abrangente é essencial para que o CRO possa orientar e gerir corretamente os riscos corporativos, trabalhar em conjunto com especialistas nessas áreas, apoiar e tomar decisões informadas.

    A gestão de riscos não é apenas sobre evitar perdas; é também sobre identificar oportunidades. Um CRO competente pode desempenhar um papel crucial no crescimento e desenvolvimento de uma organização, ajudando a identificar oportunidades, tomar decisões informadas e mitigar riscos.

     Em suma, o CRO é um pilar estratégico para qualquer organização moderna que aspira não apenas sobreviver, mas prosperar em um mundo incerto e cheio de riscos. Através da compreensão aprofundada dos princípios e processos da gestão de riscos, o CRO contribui para o alcance dos objetivos estratégicos da organização, aumentando assim as chances de sucesso e a resiliência no longo prazo.