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Gestão integrada de riscos: alinhando estratégia, segurança e sustentabilidade financeira

Gestão integrada de riscos: alinhando estratégia, segurança e sustentabilidade financeira

 

A busca pelo equilíbrio entre riscos, metas financeiras e objetivos estratégicos de longo prazo é um desafio constante para as organizações, especialmente em setores altamente regulamentados e expostos a ameaças crescentes, como segurança física corporativa e cibersegurança. Para alinhar esses fatores de forma eficaz, é essencial adotar uma abordagem estruturada e integrada, baseada me normas como ISO 31000 e ISO 31050, bem como em frameworks de governança como o COSO ERM e o modelo das Três Linhas do IIA.

A gestão de riscos deve ser incorporada aos processos da organização, sobretudo na governança, estratégia e operações, garantindo que riscos sejam avaliados considerando seus impactos financeiros e estratégicos. O alinhamento entre ameaças físicas, digitais e operacionais permite a construção de uma organização resiliente e preparada para lidar com um ambiente de negócios dinâmico e incerto.

 

2. Estabelecendo o contexto organizacional

 

O primeiro passo para um alinhamento eficaz é a definição clara do contexto organizacional, identificando fatores internos e externos que influenciam a organização. A ISO 31000 recomenda que essa análise seja detalhada e envolva a identificação de riscos estratégicos, financeiros, operacionais, emergentes entre outros.

Além disso, a organização deve estabelecer seu apetite e tolerância ao risco, garantindo que suas decisões estejam alinhadas com sua capacidade de lidar com incertezas e com seus objetivos.

Exemplo prático na segurança física corporativa: Uma empresa multinacional do setor financeiro identificou um risco estratégico relacionado à vulnerabilidade de seus centros de dados a invasões físicas. Para mitigar esse risco sem comprometer seus objetivos, a empresa estabeleceu um apetite ao risco moderado, investindo em controle de acesso com biometria, câmeras inteligentes e sensores de movimento. Dessa forma, o risco foi reduzido sem comprometer a viabilidade financeira do negócio.

Exemplo prático na cibersegurança: Uma empresa de tecnologia adotou um apetite ao risco baixo em relação a ataques cibernéticos, pois sua reputação e continuidade operacional dependem da confidencialidade dos dados dos clientes. Como parte do processo de definição do contexto organizacional, a empresa mapeou suas vulnerabilidades e investiu em arquitetura Zero Trust, criptografia avançada e simulações frequentes de ataques (Red Teaming).

 

3. O papel da governança e o comitê de gestão de riscos

 

Uma governança eficiente é essencial para garantir que a gestão de riscos seja estruturada, integrada e orientada para a tomada de decisão estratégica. Em um ambiente de negócios cada vez mais dinâmico e regulado, as organizações não podem mais tratar riscos de forma isolada ou reativa. O desafio não está apenas em identificar riscos, mas em garantir que eles sejam avaliados dentro do contexto organizacional, priorizados de acordo com seu impacto nos objetivos, tratados de forma coordenada de acordo com os critérios de riscos estabelecidos, envolvendo diferentes áreas e níveis hierárquicos.

Para que isso seja possível, as organizações devem adotar modelos robustos de governança que forneçam clareza nas responsabilidades e independência na supervisão do processo de gestão de riscos. O modelo das Três Linhas do IIA (Institute of Internal Auditors) tem se consolidado como um dos mais eficazes frameworks de governança, pois define papéis distintos e complementares dentro da estrutura organizacional:

 

  • Primeira Linha: Representada pelas unidades de negócio e operações, que lidam diretamente com os riscos no dia a dia da organização. São os gestores operacionais que identificam os riscos em seus respectivos processos, implementam controles e garantem a continuidade dos negócios dentro dos parâmetros estabelecidos pela alta administração.
  • Segunda Linha: Composta por funções de controle como gestão de riscos, compliance e controles internos. Seu papel é estabelecer metodologias, definir indicadores-chave de riscos (KRIs), monitorar ameaças e garantir que os gestores de primeira linha adotem práticas adequadas para mitigar e controlar riscos. Essa linha funciona como um pilar de suporte e fiscalização contínua, assegurando que os riscos sejam abordados de maneira sistemática e alinhada à estratégia organizacional.
  • Terceira Linha: Desempenhada pela auditoria interna e/ou auditoria independente, que avalia de forma crítica a eficácia do processo de gestão de riscos. A auditoria verifica se as diretrizes definidas pela segunda linha estão sendo corretamente implementadas e se os controles são robustos o suficiente para mitigar riscos estratégicos, financeiros, operacionais e emergentes.
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    Além dessa estrutura de governança, a criação de um Comitê Integrado de Gestão de Riscos, liderado por um Chief Risk Officer (CRO), é fundamental para garantir que os riscos sejam tratados de maneira transversal e estratégica. O CRO desempenha um papel essencial como facilitador e articulador entre as diferentes áreas da organização, garantindo que os riscos sejam avaliados em uma perspectiva holística, sem que haja silos organizacionais que dificultem uma visão ampla das ameaças e oportunidades.

     

    Figura 1: A gestão de riscos precisa ser estruturada, integrada e orientada para a tomada de decisão.

     

    Esse comitê deve reunir representantes de áreas como segurança corporativa, tecnologia da informação, compliance, jurídico, finanças, operações, recursos humanos etc., promovendo discussões periódicas para avaliar riscos críticos e revisar estratégias de controle. A tomada de decisão deve ser baseada em dados, análises preditivas e indicadores de desempenho, permitindo que a organização priorize suas ações e aloque recursos de maneira eficiente.

    Exemplo prático na segurança física corporativa: Uma empresa multinacional do setor industrial percebeu que suas unidades fabris em diferentes países estavam vulneráveis a ameaças físicas e geopolíticas, como protestos, invasões e ações de vandalismo. O Comitê de Gestão de Riscos, em conjunto com o CRO e a equipe de segurança corporativa, desenvolveu um protocolo de resposta a ameaças físicas, investiu na integração de monitoramento por vídeo com inteligência artificial e implementou um plano de contingência alinhado às normas internacionais de segurança patrimonial. Com isso, a empresa reduziu incidentes e melhorou sua capacidade de resposta a crises.

    Exemplo prático na cibersegurança: Em uma organização do setor financeiro, um ataque cibernético causou um vazamento de dados que comprometeu informações de milhares de clientes. Após o incidente, o Comitê Integrado de Gestão de Riscos foi reformulado para incluir especialistas em segurança da informação, tecnologia e proteção de dados, além de estabelecer um canal direto com a diretoria executiva. O resultado foi a implementação de um framework de governança cibernética mais robusto, com auditorias recorrentes e um sistema de monitoramento contínuo de ameaças, reduzindo significativamente o risco de novos ataques.

    Dessa forma, a governança estruturada e a atuação de um comitê multidisciplinar não apenas permitem uma resposta mais ágil e eficiente a riscos, mas também garantem que a gestão de riscos esteja alinhada com os objetivos estratégicos e financeiros da organização. O sucesso da governança não depende apenas de regras bem definidas, mas da cultura organizacional e do comprometimento da alta administração em promover um ambiente onde a gestão de riscos seja vista como um diferencial estratégico e não apenas como um requisito regulatório.

     

    4. Riscos emergentes e resiliência organizacional: a contribuição da ISO 31050

     

    A gestão de riscos tradicional costuma focar em ameaças conhecidas e relativamente previsíveis, como falhas operacionais, riscos financeiros e questões regulatórias. No entanto, o ambiente corporativo moderno enfrenta desafios cada vez mais dinâmicos e complexos, exigindo uma abordagem mais abrangente para lidar com riscos emergentes. Esses riscos são caracterizados por sua imprevisibilidade, rápida evolução e capacidade de impactar significativamente as organizações no curto prazo. Diferente dos riscos tradicionais, que podem ser mitigados com controles estabelecidos e históricos de análise, os riscos emergentes muitas vezes não possuem precedentes claros e exigem estratégias adaptativas e inovadoras para serem gerenciados de maneira eficaz.

    A ISO 31050 complementa a ISO 31000 ao fornecer diretrizes específicas para a identificação, avaliação e tratamento de riscos emergentes, reforçando a importância de fortalecer a resiliência organizacional. No cenário atual, empresas de todos os setores estão expostas a novas ameaças que podem comprometer sua estabilidade e crescimento. Entre os riscos emergentes mais relevantes para segurança corporativa, destaca-se o aumento dos ataques híbridos, nos quais criminosos combinam ameaças físicas e digitais para maximizar danos e dificultar a resposta das organizações. Além disso, a ascensão da inteligência artificial no crime cibernético representa uma nova fronteira de risco, onde técnicas avançadas como deepfakes e algoritmos autônomos podem ser usadas para fraudes, espionagem e manipulação de informações sensíveis.

    Outro fator de grande impacto é a volatilidade regulatória e legal, especialmente em setores como segurança da informação e proteção de dados. A implementação de novas leis, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) no Brasil e o Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR) na Europa, exige que as organizações adaptem rapidamente suas políticas internas, sob o risco de enfrentar sanções severas e danos reputacionais. Além disso, a globalização e a interconectividade digital trouxeram um aumento exponencial da superfície de ataque, tornando as organizações vulneráveis a ameaças transnacionais e redes criminosas altamente sofisticadas.

    Para mitigar esses riscos emergentes, as empresas precisam ir além das abordagens convencionais e adotar práticas inovadoras, como a implementação de análise de cenários para antecipação de eventos disruptivos, o uso de inteligência artificial para monitoramento preditivo e a criação de painéis de indicadores de riscos emergentes (Early Warning Indicators – EWIs) para permitir uma resposta ágil e proativa. A capacidade de identificar, monitorar e responder rapidamente a essas ameaças determina não apenas a resiliência da organização, mas também sua competitividade no mercado. Empresas que incorporam uma mentalidade de adaptação contínua e gestão prospectiva de riscos conseguem minimizar impactos negativos e transformar ameaças emergentes em oportunidades estratégicas, garantindo sustentabilidade no longo prazo.

    Exemplo prático na segurança física corporativa: Após um aumento global nos ataques a infraestruturas críticas, uma empresa de telecomunicações implementou um programa de segurança convergente, conectando segurança patrimonial e cibersegurança em uma única  diretoria. Isso permitiu a antecipação de ameaças e a criação de protocolos integrados de resposta a crises.

    Exemplo prático na cibersegurança: Uma fintech identificou um risco emergente relacionado a fraudes bancárias por deepfake. Para mitigar esse risco, adotou um sistema de verificação biométrica em tempo real, garantindo maior segurança para transações digitais.

     

    5. Monitoramento contínuo e revisões periódicas

     

    A ISO 31000 enfatiza que a gestão de riscos não é um processo estático, mas sim um ciclo contínuo de avaliação, adaptação e melhoria, garantindo que a organização esteja sempre preparada para lidar com mudanças no ambiente de negócios. Riscos não são eventos isolados; eles evoluem ao longo do tempo, influenciados por fatores internos e externos, como transformações regulatórias, novas ameaças tecnológicas e mudanças no cenário econômico. Dessa forma, o monitoramento contínuo é um dos pilares da resiliência organizacional, pois permite não apenas detectar riscos em estágios iniciais, mas também revisar estratégias de mitigação conforme novas informações se tornam disponíveis. Para isso, a organização deve estabelecer mecanismos eficazes de supervisão, combinando tecnologia, auditorias regulares e inteligência de riscos para obter uma visão clara e atualizada das ameaças e oportunidades.

    Um dos principais desafios do monitoramento é garantir que as revisões periódicas do apetite e tolerância ao risco sejam alinhadas às mudanças estratégicas da empresa. Muitas organizações falham ao definir métricas estáticas, ignorando que fatores como crescimento acelerado, fusões e aquisições ou avanços tecnológicos podem alterar significativamente o perfil de risco. Nesse sentido, o monitoramento eficaz exige a implementação de indicadores-chave de risco (KRIs), dashboards de gestão em tempo real e auditorias recorrentes para validar a eficácia dos controles internos. Além disso, a integração entre diferentes áreas é essencial para evitar a fragmentação da gestão de riscos. Empresas que possuem um modelo integrado de monitoramento, no qual segurança física, cibersegurança, compliance e operações compartilham informações e insights, tendem a ser mais ágeis na resposta a eventos adversos.

    Na segurança física corporativa, um exemplo prático desse monitoramento contínuo pode ser visto em uma empresa do setor logístico que adotou drones inteligentes para patrulhamento de suas instalações, combinando sensores térmicos e reconhecimento de padrões para detectar movimentações suspeitas e falhas nos perímetros de segurança. Essa abordagem permitiu um tempo de resposta significativamente menor a tentativas de invasão e roubos, além de reduzir custos operacionais em comparação com sistemas tradicionais de vigilância.

    No campo da cibersegurança, o monitoramento é ainda mais crítico, uma vez que ataques digitais podem ocorrer em segundos e comprometer sistemas inteiros. Para lidar com essa realidade, uma empresa do setor de saúde implementou um Security Operations Center (SOC) 24/7, garantindo vigilância constante sobre seus sistemas, com resposta automatizada a incidentes e inteligência artificial para detecção de padrões suspeitos antes que os ataques se concretizem. Com isso, a organização conseguiu reduzir drasticamente seu tempo médio de resposta (MTTR) e mitigar riscos de vazamento de dados sensíveis, reforçando a proteção de seus pacientes e sua conformidade com regulamentações como a LGPD.

     

    Figura 2: O CRO desempenha um papel essencial como facilitador e articulador entre as diferentes áreas da organização, garantindo que os riscos sejam avaliados em uma perspectiva holística.

     

    6. Conclusão

     

    O alinhamento entre riscos, metas financeiras e objetivos estratégicos de longo prazo não é apenas uma questão de conformidade regulatória, mas sim um diferencial competitivo essencial para a sustentabilidade das organizações. Em um ambiente de negócios marcado por volatilidade econômica, transformações tecnológicas e ameaças emergentes, a capacidade de integrar a gestão de riscos ao planejamento estratégico é o que distingue empresas resilientes daquelas que ficam vulneráveis a crises inesperadas.

    A adoção de um framework estruturado e integrado, baseado em diretrizes como ISO 31000 e ISO 31050, permite que as organizações não apenas minimizem incertezas e protejam seus ativos, mas também identifiquem oportunidades estratégicas em meio ao risco. O uso combinado das melhores práticas de governança, como COSO ERM e o modelo das Três Linhas do IIA, proporciona um arcabouço sólido para tomada de decisão, garantindo que a alta liderança possua informações claras e embasadas para alinhar investimentos, segurança e crescimento sustentável.

    No contexto atual, onde ameaças físicas e cibernéticas se tornam cada vez mais interdependentes, a convergência entre segurança física corporativa e cibersegurança não pode ser negligenciada. Empresas que adotam uma abordagem fragmentada ou tratam riscos de maneira isolada acabam criando lacunas de segurança que podem comprometer sua reputação, eficiência operacional e viabilidade financeira. Ao integrar segurança patrimonial e digital - Segurança Ciberfísica - sob um modelo unificado de proteção, as organizações fortalecem sua resiliência e reduzem sua exposição a eventos disruptivos.

    Mais do que simplesmente reagir a ameaças, a gestão de riscos moderna exige proatividade, visão estratégica e inovação contínua. Organizações que conseguem transformar riscos em vantagens competitivas – seja por meio da antecipação de mudanças, do investimento em tecnologia ou da construção de uma cultura organizacional resiliente – estão mais bem posicionadas para enfrentar os desafios do futuro.

    Aqueles que ainda encaram a gestão de riscos como um custo ou um mero requisito regulatório correm o risco de serem superados por concorrentes mais ágeis e preparados. Empresas que reconhecem a gestão de riscos como um pilar estratégico fundamental não apenas protegem seus ativos e asseguram sua perenidade, mas também se tornam referências de excelência em seus mercados.

    Diante desse cenário, fica o questionamento essencial: sua organização está apenas lidando com riscos à medida que surgem ou está efetivamente incorporando a gestão de riscos como um motor de crescimento sustentável e vantagem competitiva?